terça-feira, 2 de março de 2010

Etapa nº 01 - Trovadorismo


Aula-tema: Trovadorismo – Momento histórico e características.

Cantigas trovadorescas. Novelas de cavalaria – prosa

  • Passo 01
Leia as duas cantigas abaixo, representativas do cancioneiro primitivo galego-português:

Cantiga A:
Martin Codax
(Século XIII)

Mia irmã fremosa, treides comigo
a la igreja de Vig' , u é o mar salido,
e miraremo-las ondas.

Mia irmaa fremosa, treides de grado
a la igreja de Vig' , u é o mar levado,
e miraremo-las ondas.

A la igreja de Vig' , u é o mar salido,
e verrá i, mia madre, o meu amigo
e miraremo-las ondas.

A la igreja de Vig' , u é o mar levado,
e verrá i, mia madre, o meu amado
e miraremo-las ondas

Cantiga B:
Paio Soares de Ta
veirós
(Século XII-XIII)

Como morreu quen nunca ben
ouve da ren que mais amou
e quen viu quanto receou
d’ela e foi morto por en,
ai mia senhor, assi moir’eu!

Como morreu quen foi amar
quen lhi nunca quis ben fazer
e de que lhe fez Deus veer
de que foi morto con pesar,
ai mia senhor, assi moir’eu!

Com’ome que ensandeceu,
senhor, con gran pesar que viu
e non foi ledo, nen dormiu
depois, mia senhor, e morreu,
ai mia senhor, assi moir’eu!

Como morreu quen amou tal
dona que lhe nunca fez ben
e quem a viu levar a quen
a non valia, nen a val,
ai mia senhor, assi moir’eu!

a) identifique qual o tipo de cantiga (de amigo ou de amor) e o ciclo cronológico a que pertencem;

Cantiga A:
Trata-se de uma cantiga de amigo, a qual tem caráter narrativo descritivo sendo que a mulher é quem confessa o seu amor. No entanto, é o próprio trovador o autor desta cantiga. A moça geralmente uma camponesa ou pastora, começa sua cantiga dirigindo-se à sua irmã, (Mia irmãa fremosa, treides comigo nunca bem) depois se refere à Deus, como numa oração (a la igreja de Vig’, u é o mar levado: / e miraremo’-las ondas) dando a entender que o seu amado saiu em missão e que está em alto mar. Seu sofrimento portanto, é de espera por notícias de seu amado. Por se tratar de uma cantiga que transcorre o realismo, poderíamos dizer que a cantiga de amigo de Martim Codax, é de romaria, pois aparentemente ela está em uma igreja, de bailada, pois a cantiga tem uma tenção de diálogo da moça com uma irmã( desabafo), e também de barcarola, já que seu sentimento se dá em relação à ausência do amado,e pelo anseio de não saber o que terá acontecido com ele em alto mar.
A cantiga de Martin Codax pertence ao Ciclo Dionísio (1279 - 1325) e consta no Cancioneiro d'Ajuda.

Cantiga B:
Trata-se de uma cantiga de amor. O trovador expressa o seu amor através de sua cantiga, porém, ela não sabe deste amor ou finge que não sabe. Este amor é impossibilitado por causa da posição social dessa dama que é superior à sua ou por ser comprometida, colocando-se assim na posição de vassalo. O seu idílio (ai, mia senhor, assi) se dá por este amor impossível que acaba se tornando algo espiritual confirmando assim, o amor platônico pela dama intocável.
A Cantiga de Paio Soares de Taverós pertence ao Ciclo Affonsino (1248 - 1279) e consta no Cancioneiro d'Ajuda.

b) indique o sistema de rimas e identifique o refrão;

Cantiga A:
As rimas são dispostas emparelhadas nas estrofes. A cantiga tem um refrão repetitivo como podemos ver nos versos em que, algumas palavras são trocadas por sinônimos (Mia irmãa fremosa, treides comigo, por, Mia irmãa fremosa, treide de grado, e assim sucessivamente), já o verso da 5ª estrofe, está presente em todas as outras mudando apenas de posição do verso, ora aparece no 5º verso, ora no 4º, no 6º e novamente no 4º verso dando musicalidade à cantiga. Quanto à qualidade, as rimas são pobres, pois são muito comuns, como em levado e amado, receou, moi'eu. Denominando assim a cantiga popular.

Cantiga B:
O refrão dessa cantiga é a última frase de cada estrofe, "ai mia senhor, assi moir’eu!"
As rimas são interpoladas ou opostas.

c) para a cantiga de amigo indique a classificação temática usando elementos do texto, para a cantiga de amor identifique e explique como acontece a expressão do “amor cortês”;

Na cantiga de amigo, o eu – lírico é uma mulher, mas ela não é a autora da cantiga e sim, o trovador. A cantiga mostra o desabafo da mulher por estar longe de seu amado e por ter uma vida sofrível. O desabafo é dirigido à outra mulher ou seres da natureza e tem caráter melancólico
No amor cortês, o eu - lírico é masculino e sua cantiga consiste em declarar o seu amor a uma mulher que não pode corresponder ao seu amor por ser uma mulher casada ou de posição superior a sua. Diante desta impossibilidade o eu – lírico contentas-se em apenas vê-la de longe ainda que ele sofra, pois se isso não lhe for possível ele prefere a morte. O nome da amada nunca é revelado. Assim, este amor passa ser espiritual visto que a amada ganha um caráter espiritual e divino.

d) faça uma síntese de cada cantiga.

Cantiga A:
A jovem chama a mãe e sua irmã para ir até a Igreja de Vigo, que é no litoral. Provavelmente, a jovem espera ansiosamente seu amado que viajou pelo mar e espera que possa ver o retorno dele na igreja.

Cantiga B:
O trovador expressa sua coita por sua senhora que nunca lhe correspondeu e o desprezou por preferir a outro. Seu amor é tão grande que ele se vê desgraçado, sem alegria ou sono, e morto.

  • Passo 2
Leia a cantiga de amigo abaixo e explique porque podemos dizer que há aí um sistema que é chamado de paralelismo:
Trata-se de uma cantiga de amigo com refrão repetitivo caracterizado pelo verso (“a las aves meu amigo”) no final de cada estrofe, denominando assim o paralelismo.

  • Passo 03
Na cantiga de amor abaixo, D. Dinis discute o problema da expressão do amor nas poesias provençais, sugerindo certa falta de sinceridade. Usando os elementos da própria cantiga, diga por que podemos chegar a tal conclusão.

Como se vê, trata-se de uma cantiga satírica de maldizer, o trovador dirige diretamente à dona “fea, velha e sandia” com críticas grosseiras e virulentas. Sua estrutura revela nitidamente o caráter popular desse tipo de cantiga. Ele a ridiculariza, mesmo sem merecer. A interlocutora sabe de seus defeitos, entretanto anseia ser cortejada por um jovem trovador.
Já o amor cortês é uma confissão amorosa do trovador que padece por cortejar uma dama inacessível.

  • Passo 04
Explique, usando elementos do texto, porque podemos dizer que a
cantiga abaixo é uma paródia à teoria do amor cortês e às suas exigências:

O trovador diz que a Provença pe muito linda, tem uma estação do ano cheia de flor e cor e que os trovadores provençais não deveriam sofrer tão intensamente quanto os demais.
Vê-se isso pelo trecho "Os que trobam no tempo da frol e non em outro sei eu ben que non an tan gran coito no seu coraçon."
  • Passo 05
Tendo em vista o fato de o “amor cortês” caracterizar-se justamente pela impossibilidade de união real entre os dois amantes, diga em que consiste a “falta” que define as relações amorosas das novelas de cavalaria. Explique isso exemplificando com a história de Tristão e Isolda. (BÉDIER, Joseph. O romance de Tristão e Isolda. São Paulo: Martins Fontes, 2001)

Tristão e Isolda são fadados a amarem-se intensamente, o que constituí seu maior pecado. Esse amor os leva recorrer à medidas extremas para que possa ser saciado.
É a verdadeira síntese do conceito de que o amor verdadeiro, puro e cortês é aquele irrealizável, já que os personagens sofrem e morrem em vista da real realização carnal e emocional de seu amor, que, proibido, é perseguido e encarado como errado pela sociedade. Mesmo o Rei Marcos julga severamente aos amantes, apesar de muito os querer bem, sem poder permitir que fique impune o pecado que cometeram.
O notável é que, diferente das cantigas, as novelas de cavalaria revelam que muitos dos romances proibidos e secretos na corte se realizavam, embora sempre haja uma grande punição prevista. Também é importante observar a desculpa dos amantes de nutrirem tal doentia paixão um pelo outro: como bem requer a mesura, os dois na verdade estão na situação inescapável de amarem-se por causa do filtro mágico da Rainha. Só desta forma seria aceitável que tal amor fosse sentido e realizado.

  • Passo 06
Descreva, sucintamente, o argumento de A Demanda do Santo Graal e explique o significado do episódio intitulado “A tentação de Galaaz” (in: MOISES, Massaud. A Literatura Portuguesa através dos Textos. 28ª ed. São Paulo: Cultrix, 2002) para a configuração de um tipo específico de cavaleiro
medieval.

A obra "A Demanda do Santo Graal" se baseia na busca dos cavaleiros pelo Cálice Sagrado da Última Ceia onde foi recolhido o sangue sacrificial de Jesus Cristo, segundo misticismo cristão.
É uma grande exaltação das qualidades nobres que um cavaleiro precisava possuir e a busca pela relíquia significa a busca da perfeição.
Galaaz é o cavaleiro exemplar que conta com a sorte que advém da providência divina, visto sua grande piedade. sua pureza era tão superlativa, que dentre todos os caveleiros, foi o único eleito a vislumbrar a glória do vaso sagrado, e ao morrer, o Paraíso Celestial abriu-se para ele e foi recebido pelo também Virgem Josefes.
Podemos dizer assim, que Galaaz tipifica o cavaleiro cristão puro fisíca e espiritualmente, provado em todas as tentações da carne e do demônio pelo qual passou, e único merecedor da dádiva do paraíso.

Referências

BRAGA, Teophilo. História da Litteratura Portugueza. Porto: Chardon, 1909. Edad Média. Acesso em: 03 mar 2010, 00:17


MOISÉS, Massaud (org.) A literatura portuguesa através de textos. São Paulo: Cultrix, 1997.

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