terça-feira, 30 de março de 2010

Etapa nº 03 - Classicismo - Passo 03

PASSO 3

Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho logo mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
Pois consigo tal alma está liada.

Mas esta linda e pura semideia,
Que, como o acidente em seu sujeito,
Assim co'a alma minha se conforma,

Está no pensamento como ideia;
[E] o vivo e puro amor de que sou feito,
Como matéria simples busca a forma.

“Transforma-se o amador na cousa amada”, neste verso o poeta revela-se no ser, que passa a ser amado, ou seja, ele torna-se no amor puro e verdadeiro que sentia pela sua amada como acontece no amor platônico em que (“o amador”) se torna no objeto (ser) amado, bastando a si mesmo. Enquanto que nos versos: (“Mas esta linda e pura semideia/ Que, como o acidente em seu sujeito,/ Assim co' a alma se conforma”), o poeta apresenta uma mulher real dando a ideia de entrega ao corpo (“como acidente em seu sujeito”), ainda que, ele reconheça que esse, não é o amor que se deva almejar. Também, faz nos pensar sobre um amor incompleto que, por isso é apenas uma meia ideia (“Mas esta linda e pura semideia”) do amor que ele busca como o perfeito, sem o pecado carnal e sublime. Porém, há uma certa confusão em relação ao seu ideal, pois ao mesmo tempo que ele almeja o amor puro, livre dos pecados carnais, a presença da mulher como físico é uma constante em seus pensamentos, ao passo que no verso: ( Está no pensamento como ideia;/ [E] o vivo e puro amor de que sou feito,/Como matéria simples busca a forma) ele feha o poema retomando o seu verso inicial: o amor que ele já conhece e sabe que existe, está dentro dele como um ideal de amor puro e belo como uma meia ideia do que ele seja , pois para alcançar sua forma perfeita, ele precisa da matéria (mulher).
Assim, o poeta busca conciliar o amor como ideia/ pensamento e o amor como forma física, ambos representado em uma mulher . Camões faz uso do “ser” como recurso estilístico, no qual, o corpo é apenas o meio para se chegar ao amor divino, a sublimação e, em sua última estrofe, ele fecha com a ideia caracterizada do amor puro e espiritual do qual é feito, porém, mantém em sua ideia a matéria, a qual não existe sem a forma, ou seja, uma completando a outra.

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